É de toda conveniência recordar que durante a Idade Média e século XVIII era geneticamente aceita a doutrina de Descartes, que afirmava que os animais não passavam de máquinas. Desconhecia-se que, no puro comportamento biológico, nada pode separar um ser vivo de outro ser vivo; acreditava-se que os animais não humanos não tinham emoções, sentimentos, não sentiam medo, frustração, ansiedade nem stress. Também se desconhecia que os animais não humanos têm consciência da dor, da visão, têm sono, sonho e autoconsciência. Desconhecia-se o funcionamento do sistema nervoso central, que é absolutamente idêntico em todos os chamados mamíferos superiores, onde se inclui o animal humano, o macaco, a baleia, o touro, o cavalo, a lebre, a raposa, o urso, entre outros. Além disso, desconhecia-se o papel dos neurotransmissores, descoberto apenas nos anos 1980, e que é o mesmo em todas as espécies, acarretando funcionamento cerebral idêntico, com reações aos neurotransmissores, à sua falta ou excesso, também idênticas.
No final do ano de 1999 comprovou-se que mesmo os organismos mais simples são capazes de usar mecanismos neurodinâmicos cerebrais de formas simples e funcionais. Ignorar o que a ciência demonstrou e provou é inaceitável por parte de quem detém o Poder e controla a Sociedade. Em épocas passadas, o fato do poder instituído permitir divertimentos cruéis, até que poderia, de alguma forma, ser desculpada pelo desconhecimento científico da época. Entretanto, em pleno século XXI não há como compor justificativas nesse sentido, e os governantes não podem, por terem a opção de fugir da ignorância através da ciência, uma vez conhecedores do que esta tem revelado, continuar permissivos, condescentes. Terão que rever toda a atuação oficial quanto à conduta para com os animais não humanos. A sustentação de eventos como as touradas é hoje uma aberração cultural e social. Esta conclusão é partilhada por vários pesquisadores, como Bateson, Bradshaw e também por Mason, da Universidade de Oxford, Inglaterra, tal como está publicada na revista Nature. Esses pesquisadores chamam atenção especial para diversos divertimentos, mesmo que considerados tradicionais, como a caça aos cervídeos e à raposa, a cavalo, as corridas de cães com lebres vivas, a pesca de competição, os rodeios e as touradas, que, pelo stress altamente emocional que desenvolvem e pelos danos fisiológicos conseqüentes, deverão, sem demora, ser reavaliados e mesmo abolidos pelo poder político, em todas as sociedades.
Como disse Konrad Lorenz, “quando estão em jogo dores que se pode evitar, recalcar, desviar a vista do sofrimento dos animais pode ser perigoso caso se torne um hábito”.
Texto extraído do livro:
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