"TANTA CRIANÇA PASSANDO FOME E.."
Já ouvi esta frase dezenas ou centenas de vezes, de gente incomodada com protestos pró-libertação animal, e até mesmo os conhecidos que atuam na proteção animal já me relataram ter ouvido esse mantra boca-suja à exaustão. Qualquer movimento, ação ou preocupação com os animais, gera em determinadas pessoas a pergunta ‘mas com tanta criança passando fome, vocês aí ________?’.
Eu ouço uma pergunta diferente nesses casos; da boca da pessoa sai a frase acima, porém a tradução é ‘mas com tanta criança passando fome, vocês aí que fazem coisas, que gastam dinheiro do próprio bolso, que sacrificam horas e dias de repouso, que esquentam a cabeça e se preocupam em resolver aquilo que nós, maioria, apenas passamos os olhos com indiferença, destinaram todo esse esforço voluntário justamente pros animais?’. Quem sempre tem uma opinião na ponta da língua, não é a mesma que faz doações regulares a entidades beneficentes, que vai uma vez por semana fazer leitura para cegos, que vai conversar com um morador de rua para tentar dar uma ajuda, que sacrifica um dia besta na frente da televisão para se voluntariar como instrutor em oficinas profissionalizantes, ou arrecadar um computador seminovo entre conhecidos e enviar a algum lugar que necessite.
São pessoas diferentes, embora alguns esperneiem para dizer que, sim, eles são os bons samaritanos de primeira hora, de raiz, e cospem em quem levanta dúvida sobre sua incapacidade de levantar a bunda da poltrona para alterar, em 0,00001%, a realidade lá fora. A realidade que passa de relance nos noticiários.
Acredito sinceramente que as crianças que passam fome infelizmente estão à mercê da grande maioria das pessoas, cuja indignação e empatia duram somente o tempo dos intervalos comerciais, ou o tempo de leitura de algum e-mail apelativo recebido de conhecidos. Porque parece que nós, ativistas pró-animais, e protetores e defensores, estamos somente enxugando gelo, enquanto o céu desaba lá fora – realidade detectada somente pelos que tudo criticam, mas pouco fazem.
Nós, ‘trololós das ideias’, estamos perdendo nosso tempo – e o tempo deles – com conversas e atividades envolvendo cachorros, vacas, porcos e até animais que nunca veremos, como focas no Canadá, golfinhos no Japão, animais fofos na China e ratos brancos em laboratórios.
Eles, não.
Eles enchem a boca para criticar as protetoras dondocas, que nada têm a fazer, então correm atrás de cachorros pelas ruas, que saem alimentando gatos, que brigam com carroceiros malvados etc. Eles, com orgulho, apontam todas as falhas de razão que os veganos têm, suas preocupações e soluções bobas, já que não há mal nenhum em um bom bife, necessário à saúde e que, convenhamos, não tem nada a ver com imagens sangrentas e agressivas que povoam o Orkut e sites de gente que usa camiseta preta.
Mas as crianças continuam a passar fome, a despeito dessa maioria que, transbordando um bom-senso que eu não terei em vida, pesa melhor os problemas que aí estão. Tal como as promessas de muitos candidatos a cargos políticos, basta abraçar os problemas na hora da fotografia, e o remorso passa em instantes.
A indiferença resume a ética dessa brava gente brasileira.
A indignação só vale para a conversa rasteira com o motorista do táxi, xingando o governo e ‘a ladroagem’, mas o ritmo de vida não muda, o que só depende da própria pessoa. Foi-se o tempo em que era necessário encaixar-se nos moldes, nas oportunidades fornecidas por terceiros, nas vagas a autômatos. Quem quiser arregaçar as mangas, terá um mundo inteiro, lá fora, aguardando e precisando de sua boa vontade e culhão. Não é fácil, pois se escolher a problemática A, o pessoal dos camarotes vai comentar que o certo seria atacar a problemática B, e assim por diante.
Mas essa maioria ainda não se deu conta de que o voyeur não faz nem participa, contenta-se em olhar para o que os outros estão fazendo, com prazer. Como o ativismo pró-libertação animal, gostem ou não.
Eu ouço uma pergunta diferente nesses casos; da boca da pessoa sai a frase acima, porém a tradução é ‘mas com tanta criança passando fome, vocês aí que fazem coisas, que gastam dinheiro do próprio bolso, que sacrificam horas e dias de repouso, que esquentam a cabeça e se preocupam em resolver aquilo que nós, maioria, apenas passamos os olhos com indiferença, destinaram todo esse esforço voluntário justamente pros animais?’. Quem sempre tem uma opinião na ponta da língua, não é a mesma que faz doações regulares a entidades beneficentes, que vai uma vez por semana fazer leitura para cegos, que vai conversar com um morador de rua para tentar dar uma ajuda, que sacrifica um dia besta na frente da televisão para se voluntariar como instrutor em oficinas profissionalizantes, ou arrecadar um computador seminovo entre conhecidos e enviar a algum lugar que necessite.
São pessoas diferentes, embora alguns esperneiem para dizer que, sim, eles são os bons samaritanos de primeira hora, de raiz, e cospem em quem levanta dúvida sobre sua incapacidade de levantar a bunda da poltrona para alterar, em 0,00001%, a realidade lá fora. A realidade que passa de relance nos noticiários.
Acredito sinceramente que as crianças que passam fome infelizmente estão à mercê da grande maioria das pessoas, cuja indignação e empatia duram somente o tempo dos intervalos comerciais, ou o tempo de leitura de algum e-mail apelativo recebido de conhecidos. Porque parece que nós, ativistas pró-animais, e protetores e defensores, estamos somente enxugando gelo, enquanto o céu desaba lá fora – realidade detectada somente pelos que tudo criticam, mas pouco fazem.
Nós, ‘trololós das ideias’, estamos perdendo nosso tempo – e o tempo deles – com conversas e atividades envolvendo cachorros, vacas, porcos e até animais que nunca veremos, como focas no Canadá, golfinhos no Japão, animais fofos na China e ratos brancos em laboratórios.
Eles, não.
Eles enchem a boca para criticar as protetoras dondocas, que nada têm a fazer, então correm atrás de cachorros pelas ruas, que saem alimentando gatos, que brigam com carroceiros malvados etc. Eles, com orgulho, apontam todas as falhas de razão que os veganos têm, suas preocupações e soluções bobas, já que não há mal nenhum em um bom bife, necessário à saúde e que, convenhamos, não tem nada a ver com imagens sangrentas e agressivas que povoam o Orkut e sites de gente que usa camiseta preta.
Mas as crianças continuam a passar fome, a despeito dessa maioria que, transbordando um bom-senso que eu não terei em vida, pesa melhor os problemas que aí estão. Tal como as promessas de muitos candidatos a cargos políticos, basta abraçar os problemas na hora da fotografia, e o remorso passa em instantes.
A indiferença resume a ética dessa brava gente brasileira.
A indignação só vale para a conversa rasteira com o motorista do táxi, xingando o governo e ‘a ladroagem’, mas o ritmo de vida não muda, o que só depende da própria pessoa. Foi-se o tempo em que era necessário encaixar-se nos moldes, nas oportunidades fornecidas por terceiros, nas vagas a autômatos. Quem quiser arregaçar as mangas, terá um mundo inteiro, lá fora, aguardando e precisando de sua boa vontade e culhão. Não é fácil, pois se escolher a problemática A, o pessoal dos camarotes vai comentar que o certo seria atacar a problemática B, e assim por diante.
Mas essa maioria ainda não se deu conta de que o voyeur não faz nem participa, contenta-se em olhar para o que os outros estão fazendo, com prazer. Como o ativismo pró-libertação animal, gostem ou não.
Nenhum comentário:
Postar um comentário